Segundo o site Vortex Magazine a cidade de Beja não é um dos 10 locais mais belos do Alentejo, surgindo outras localidades no top 10 com menos património e beleza, como por exemplo Vila Viçosa ou Terena. Para mim, e julgo para a maioria das pessoas que conhecem o Alentejo, esta não-nomeação é descabida, insensata e injusta. Mas pergunto: Porque isto acontece?
Será ignorância e desconhecimento do autor da publicação sobre o património e história da nossa cidade? Total afastamento da cidade desde sempre em termos de marketing e atração turística? Ausência de proteção e promoção do nosso património e história? Seremos, afinal uma cidade sem herança?
Há algumas semanas escrevi um artigo intitulado “Visite Beja” e, mesmo após reler para ver que afinal somos ricos em património e história, vejo afinal, que muito ficou por dizer sobre o que a cidade pode exibir a quem nos visita.
É assim que me sinto. Mesmo após 48h, sinto-me em completo choque! Aceito o resultado das eleições, porque a democracia ainda é o melhor sistema para se eleger algo ou alguém.
Porque estou em choque? Porque vivo num país onde a % de abstenção é altíssima, onde todos criticaram negativamente durante 4 anos e de forma enérgica e nunca vista na democracia portuguesa a governação PSD e CDS e, no momento em que as pessoas podem mudar o rumo das suas vidas, votam nos mesmos.
Muito haveria a descortinar sobre estas eleições: Como é possível a esquerda andar os últimos 6 meses a atacar massivamente o PS ao invés da coligação de direita, e hoje, quer formar Governo com o PS?
Como é possível o BE e o PCP quererem governar, quando não ganharam as eleições?
Como foi possível um político tão experiente como António Costa enredar-se nas armadilhas (Segurança Social, José Sócrates, défice em 2011, quando o debate deveria ter sido o défice em 2015, etc) da coligação Portugal à Frente?
Como foi possível António Costa não ter feito uma oposição simples, realista e direta sobre os problemas do país e da governação dos últimos 4 anos, como fez Catarina Martins, líder do BE?
Como foi possível o PS deixar que a campanha fosse sobre José Sócrates e a crise que ele causou?
Como foi possível o PS pensar que a prisão de José Sócrates não iria afetar a campanha e a imagem do partido?
Estas, e outras questões, são o ponto-chave da campanha.
Deixemos os eleitos, e passemos aos eleitores, ou seja, ao povo.
Onde estiveram os reformados e pensionistas que tiveram cortes nas reformas?
Onde estiveram os pais e avós que viram os filhos partir?
Onde estiveram as famílias que foram obrigadas a devolver as suas casas por falta de emprego?
Onde estiveram os munícipes que viram as obras públicas pararem?
Onde estiveram os funcionários públicos que foram espoliados dos seus direitos, e mesmo após o fim do programa de austeridade continuam sem esses direitos, quando lhes fora prometido o contrário?
Onde estiveram os utilizadores do Sistema Nacional de Saúde que viram taxas moderadoras passarem a co-pagamentos?
Onde estiveram as pessoas que cuidam não necessitavam do SNS, não havia médicos e enfermeiros?
Onde esteve o povo real, ou seja, 98% dos portugueses que viram o seu rendimento e poder de comprar baixarem de forma brutal nos últimos 4 anos?
Não foram votar?! Ou foram votar sobre o efeito de substâncias alucinogénias?
E dos eleitores do nosso distrito, não entendo como foi possível, após 4 anos de nada fazerem por nós, a coligação PSD e CDS receber quase 15.000 votos no distrito de Beja, elegendo 1 deputado em 3, e alguém que simplesmente não é do distrito, nunca cá viveu e não conhece o baixo Alentejo, enquanto território, cultura, povo e suas necessidades.
Um dia gostaria de ver o Pato Donald candidatar-se a deputado em Portugal. Com estes eleitores, julgo que ganharia…
Se estávamos mal, enquanto país, povo e seres humanos, porque elegemos os mesmos?!
Num País normal, o que aconteceria a um Governo, que é o mais inconstitucional da história democrática desse mesmo País?
Pedro Passos Coelho e seu Governo, em 4 anos de desgovernação obtiveram 9 chumbos por parte do Tribunal Constitucional, ocorrendo, em alguns casos a persistência das medidas inconstitucionais, usando para tal, outras medidas para ludibriar o Tribunal Constitucional, como o corte do subsídio de Natal aos funcionários públicos, que foi substituído por mais um imposto.
Este Governo foi eleito, é verdade, mas não foi eleito com um programa de governo inconstitucional, de destruição e desmantelamento de todo o Estado e empobrecido de 98% do povo.
E, como disse Miguel Torga: “Há a liberdade de falar e há a liberdade de viver, mas esta só existe quando se dá às pessoas a sua irreversível dignidade social.”
Conclusão: somos um País estranho. Com muitas coisas boas, é certo. Mas incomum.