A Europa e as próximas eleições são importantes?
A campanha eleitoral
A campanha em Portugal para eleger os deputados europeus está a ser confrangedora, pobre e falsa. Os candidatos não discutem a Europa. Gritam sobre a geringonça (que resultou e chegou ao fim, contrariando todas as expectativas), José Sócrates (que não é candidato nestas eleições, mas todos os dias é falado pelo PSD e CDS) e a grande dívida socialista (com um défice próximo de zero). Assistimos diariamente à discussão do vazio.
Não olham para Portugal na Europa ou a Europa em Portugal. Olham para as eleições legislativas de outubro deste ano. Os actuais eurodeputados atacam-se mutuamente, mostrando o pouco que cada um fez, em vez de falar do que pretendem para os próximos anos. O que pensam os principais partidos sobre temas fundamentais como: impostos europeus? Sim ou não a um orçamento europeu para grandes investimentos no continente? Como combater a corrupção? Como garantir que todas as empresas não-europeias que actuam na Europa pagam impostos realistas, ao invés de valores de 1%, como Amazon, Google ou facebook? Como tornar as empresas europeias competitivas dentro do espaço europeu e no plano mundial? É importante criar um exército europeu? Como a Europa deverá lidar com os meus maiores inimigos, Rússia e Donald Trump? E a China: parceiro ou inimigo? A Ucrânia deverá aderir à União Europeia? Como incentivar os jovens a sentirem-se mais europeus? Questões que nunca foram respondidas, porque o "jogo" faz-se sem qualidade, seriedade ou competência.
Para tornar o debate ainda mais pobre, os partidos sem assento no parlamento europeu, exceção para os xenófobos e racistas, foram esquecidos nos debates e entrevistas, dando-se apenas voz aos partidos do “sistema”. Os mesmos que vão estar em luta em outubro.
O presente da Europa
A Europa vive uma crise e se não mudar após estas eleições, pode acontecer a sua auto-destruição. A crise financeira e o Brexit foi o início. Depende dos futuros eurodeputados estancar esta crise existencial da Europa.
Numa leitura rápida e honesta, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia estão completamente manietados por tecnocratas não eleitos que tomam decisões olhando apenas para números em folhas excel e lobistas que defendem os interesses de grandes países e empresas gigantes. Não há políticas únicas de habitação, educação, saúde e transporte público. Mas há uma união rija e austera na banca e euro. O mais importante é o dinheiro, ao invés das pessoas.
Como é possível haver na Europa, enorme pobreza, onde crianças e idosos não têm água potável ou eletricidade, educação e alimentação adequada? Não é por falta de dinheiro uma vez que para recuperar o pináculo da Catedral de Notre-Dame, arranjou-se mil milhões de euros de meia-dúzia de famílias francesas/europeias.
A realidade diz-nos que nenhum país sozinho conseguirá lutar lado-a-lado com a China ou o Estados Unidos. Mas uma Europa unida consegue. Daí o euroceptismo é a maior derrota para a economia e finanças de qualquer país europeu, seja a Alemanha, França ou Portugal.
Os cidadãos europeus
A Europa e as grandes empresas crescem economicamente, mas assistimos os seus cidadãos, cada vez mais pobres e mal pagos ou sem emprego. Não há desenvolvimento humano e social, sem prosperidade económica coletiva. Os ricos estão cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres.
O sucesso ou destruição da União Europeia depende do combate às desigualdades humanas, sociais e económicas. Não se consegue satisfação sem prosperidade. E nesse campo, os políticos só têm dado tiros ao lado.
O dia das eleições
A abstenção irá ser brutal porque os jovens não sabem o que os partidos pensam ou prometem. Os partidos, de forma genérica, apresentam enormes outdoors e folhetos nas caixas de correio frases genéricas, sem qualquer ideia ou conteúdo, e no final, com a mensagem “Por uma Europa melhor, VOTA PSD!”. Mas como se faz uma Europa melhor? Ninguém sabe.
Os cidadãos, como não sabem o que pensam, ficam em casa. Não votam.
Mas a culpa não é apenas dos partidos. Também é do povo. Porque somos nós, enquanto coletivo, que perpetuamos este estado. Somos nós, que dizemos semanalmente que são todos iguais e fomos esquecidos pelos políticos, mas nas eleições seguintes, os que vão votar, votam nos mesmos.
Não se muda nada, fazendo tudo igual.
Abstenção
Não votar não é uma solução. Nunca foi. A União Europeia decide muito do que se passa nas nossas vidas, como tal, é importantíssimo votar. E quem não vota, não pode reclamar depois.