Hospital José Joaquim Fernandes (Beja): o hospital-contentor
FOTO: HOSPITAL JOSÉ JOAQUIM FERNANDES, BEJA.
A cidade de Beja apresenta várias carências. As origens dessas carências são várias, nomeadamente, falta de investimento privado em Portugal, que se agrava no interior; sermos um país pobre face aos outros países líderes europeus; e, pelo facto, de o Estado nada investir na região. Apenas a União Europeia investe nas regiões menos povoadas.
Uma das maiores conquistas da nação nas últimas décadas, foi a criação do Sistema Nacional de Saúde (SNS), que proporcionou não só um grande avanço nos cuidados de saúde da população em geral, mas colocou Portugal na liderança mundial na prestação de cuidados de saúde, sendo prova disso vários indicadores internacionais.
Hoje, a entidade pública responsável por prestar cuidados de saúde na região, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, com a sua sede no Hospital José Joaquim Fernandes (Beja), apresenta falta de médicas, com a diminuição do número de especialistas, uma suborçamentação crónica, que impede o atual Concelho de Administração de investir na melhoria dos cuidados, bem como a ausência de estruturas físicas capazes de dar resposta ao aumento do envelhecimento da população, trazendo mais e novos problemas de saúde, bem como a inexistência da expansão do Hospital José Joaquim Fernandes, que aguarda há vários anos por ter aparelho de ressonância magnética, não sendo este o único problema. Basta qualquer utente ir ao Serviço de Urgência do Hospital José Joaquim Fernandes, e depara-se facilmente com a carência de médicos, bem como uma estrutura física pequena e desatualizada para acomodar os doentes que lá se encontram. Além disso, basta dar uma volta pelo recinto, para constatar que o único hospital da região se tornou um hospital-contentor. Serviço de Urgência COVID-19 -> Contentores. Consultas externas de pediatria -> Contentores. Consultas de diabetologia -> Contentores. O próprio Concelho de Administração -> Contentores. Serviço de Urgência pediátrico -> Contentores.
Em suma, o único hospital da região, além da carência de material e de recursos humanos, é uma estrutura física cheia de remendas, em que os défices vão sendo “tapados” com contentores, que, acredito, não serão temporários, e sim definitivos, nunca sendo criada uma solução para as necessidades da população, que paga elevados impostos, por fracos cuidados de saúde.
E o problema persiste, porque somos incultos, preguiçosos e apáticos. O povo só reclama dos serviços públicos, quando os utiliza, e junto de quem não tem culpa - os trabalhadores - quando deveria pensar, à priori, e nas consequências de ter serviços públicos, sem capacidade ou investimento, porque amanhã, todos iremos lá parar, num hospital do SNS.
O Partido Socialista, muito tem prometido, mas nada concretizou para melhorar os cuidados de saúde do interior do país. Prova disso, é o crescimento do número de portugueses com seguro de saúde privado, ADSE ou outros sub-sistemas de saúde e o surgimento, a cada ano, de mais instituições privadas de saúde. O privado só aparece, quando os outros falham, neste caso o Estado.