Portugal: um país centrado em Lisboa
Portugal é um país pobre e desigual. Os nacionais dizem-no e quem nos visita de fora, os estrangeiros, confirmam. A pobreza revela-se nos baixos salários, fraco investimento e atraso socioeconómico. As desigualdades estão presentes em várias áreas: saúde, oportunidade de emprego, acessibilidades, escolas, universidades, cultura, organismos estatais, justiça, transportes, etc.
De acordo com entidades internacionais, Lisboa não é desigual, nem pobre. Os lisboetas têm remunerações acima da média europeia (sendo a única região de Portugal onde isso acontece) e possui todos os meios para satisfazer as necessidades básicas e de melhoria da qualidade de vida de todos os seus cidadãos. No resto do país, o que fica fora das “muralhas” de Lisboa, isso já não acontece. E porquê?
Lisboa, por ser capital da nação, sempre foi favorecida e protegida com tudo o que havia de positivo para o bem-estar e desenvolvimento de qualquer cidade. Grandes hospitais, transportes públicos, aeroporto, universidades, empresas privadas, sede de organismos e empresas públicas, grandes eventos, museus, grandes obras públicas, tudo foi alocado a Lisboa, causando um centralismo esmagador, afastando todo o país que fica fora das “muralhas” de Lisboa, do progresso e investimento, tanto público como privado. Esse centralismo só não foi agravado, porque é impossível transferir as praias do Algarve, as planícies do Alentejo e os socalcos e vinhas do Douro para Lisboa. Foi a sorte do resto de Portugal, do outro Portugal.
A última medida de forte centralismo e injustiça em todos nós, em particular aos contribuintes, foi a transferência da propriedade e gestão da Carris do Estado Português para a Câmara de Lisboa, exceto a dívida astronómica de 700.000.000,00€ da empresa de transporte público da cidade de Lisboa que se manterá no Estado, e será paga pelo resto de Portugal. Os lisboetas, apenas pagarão as despesas anuais da empresa a partir de 1 de Janeiro de 2017.
A somar a isso, há o caso dos contratos SWAP, realizados por anteriores gestões da Carris, tendo gerado processos em tribunais e que ainda não terminaram, ficando o passivo, até ao momento de 39 milhões de euros, no Estado Português, ou seja, mais uma fatura para o resto do País pagar.
Ninguém falou disto, nem a oposição, que poderia ter usado esta decisão do atual Governo, injusta e irracional, como trunfo. Não usou, porque o acordo do PSD e CDS, de concessionar a Carris aos privados, tinha a mesma medida, ou seja, a empresa passava para os privados, tornando-a lucrativa e a dívida de 700 milhões de euros ficaria no Estado, sendo pago não com os lucros, mas com os impostos de toda a nação.
Portanto, quando dizem que não há dinheiro para contratar médicos para o interior, eletrificar uma parte da linha de comboio entre Beja e Lisboa ou terminar a autoestrada e as restantes ligações rodoviárias à cidade de Beja, eu digo, que é MENTIRA. O Orçamento de Estado diz isso mesmo. Se o Estado consegue “encaixar” uma dívida de centenas de milhões de euros, também deveria conseguir construir estradas e pontes, requalificar e modernizar hospitais e centros de saúde, etc. É mentira dita pelos governantes e elites que só olham para Lisboa. Quando há eleições, vagueiam por todo o país com palavras de prosperidade, progresso e investimento em todo o território, sem discriminação. Mentiras que são ditas na rua, nos jornais ou em nossas casas quando assistimos aos telejornais.
A dívida da Carris, a tal de setecentos milhões de euros, será paga ao longo de décadas por todos os portugueses, de norte a sul, comprometendo o país fora de Lisboa a mais impostos, sem retorno local ou regional. No mapa que ilustra esta publicação, Lisboa representa o pequeno ponto vermelho. O resto, o "excedente" dos portugueses pagam a dívida dos transportes de Lisboa.
Pior que isso, é o snobismo dos políticos lisboetas que criticam todo e qualquer investimento público no Alentejo: aeroporto, Alqueva ou autoestrada.
Haja saúde para todo os portugueses, sem exceção, trabalharem e pagarem os desvarios e luxos de Lisboa! Um dia, quando morrer e renascer noutra pessoa, espero ser lisboeta!